Seth Godin diz-nos que não. Acrescenta ainda que a “criatividade não é um talento, mas sim uma competência que pode ser desenvolvida por todos”.
O título e a capa do livro “O processo criativo” intrigaram-me… Foi a minha primeira leitura de 2022 e mudou a forma como encarava alguns dos supostos “truques” que há na criatividade e na inspiração.
Eis as cinco principais aprendizagens que encontrei no processo criativo contado por Seth Godin:
1. Acreditar em nós próprios é um truque passo essencial
Já pensaste que “O tempo que passamos a preocupar-nos é, na verdade, tempo que desperdiçamos na tentativa de controlar algo que não está sob o nosso controlo”?
“A nossa incapacidade de confiarmos em nós próprios pode mesmo consumir-nos.”
Sim, todos temos dúvidas. Às vezes, as chamadas “crises existenciais”. E é normal… Faz parte da nossa condição humana. Da nossa necessidade de validação exterior. De reconhecimento por parte dos que nos rodeiam.
E não vai ser de repente que vamos simplesmente passar a acreditar nas nossas capacidades. É um processo que acontece cada vez que escolhemos acreditar no que estamos a fazer. Em vez de deixar que isso nos impeça de progredir com o nosso trabalho, seguimos em frente. Podemos errar, é verdade… Mas a viagem continua.
Seth acrescenta ainda que “O tempo que investimos em algo que está sob o nosso controlo chama-se trabalho — é onde reside o nosso foco mais produtivo.”
2. Mais ideias “más” e menos ideias “boas”
Quantas vezes deixaste de partilhar uma ideia por sentires que era ridícula ou banal? Ou por seres mal interpretado pelos outros? Eu já… E muitas vezes acabava por me arrepender…
Independentemente da realidade em que trabalhes, Seth realça que “Acolher as más ideias é uma boa forma de avançar. Elas não são o inimigo, são passos essenciais do caminho para a melhoria”.
Na próxima reunião ou discussão de ideias em que participares, atira as tuas ideias para o ar, partilha aquilo em que acreditas, arrisca. Lembra-te de que:
“… a criatividade é contagiosa se nós os dois estivermos a trocar as nossas melhores ideias, elas tornam-se ainda melhores. A abundância multiplica. Se não confiamos na nossa voz, ou se ainda não a encontrámos, é fácil justificar o nosso silêncio. É melhor contermo-nos do que sermos rejeitados, pensamos nós.”
3. Consistência, disciplina e compromisso
Esta é uma das principais estratégias referidas por Seth Godin ao longo do livro. Pensa na seguinte situação:
“Se quer ficar em forma, não é difícil. Passe uma hora por dia a correr ou no ginásio. Faça-o durante seis meses ou um ano. E está feito! Essa não é a parte difícil. A parte difícil é tornar-se o tipo de pessoa que vai ao ginásio todos os dias.”
No início do ano, definimos muitos objetivos. E muitas pessoas afirmam que vão ficar em forma. Janeiro chega e os ginásios enchem-se. Sente-se a vontade nas caras que não são familiares! Mas, passado algumas semanas, as pessoas que estão no ainda ginásio são os clientes habituais…
E o mesmo acontece naquilo a que chamamos o nosso processo. Estratégia. Método. No fundo, à nossa rotina. Será que nos dedicamos diariamente à criatividade? Ao que nos apaixona? Às competências que queremos desenvolver ou melhorar?
Seth afirma claramente:
“Se quer mudar a sua história, mude as suas ações primeiro. Quando decidimos agir de determinada forma, a nossa mente não consegue evitar reformular a nossa narrativa para a tornar coerente com essas ações. Tornamo-nos naquilo que fazemos.”
É na combinação da consistência, disciplina e compromisso que reside grande parte da chamada inspiração, da criatividade, dos nossos resultados. É a soma das pequenas escolhas que vamos fazendo, até que criamos os sistemas necessários para que a prática se torne na nossa rotina.
4. Foco no processo, não no resultado
Bem… Esta foi uma das ideias que mais me deixou a pensar! Seth partilha a seguinte perspetiva:
“Quando ficamos extremamente ligados à reação que os outros terão relativamente ao nosso trabalho, deixamos de nos focar no nosso trabalho e começamos a concentrar-nos no controlo do resultado.”
O foco excessivo no resultado impede-nos de aproveitar o processo. Além da preocupação face à reação dos outros, estamos constantemente focados em atingir mais um resultado. Terminar mais um ponto das nossas listas. Fazer isto… E fazer aquilo…
Mas será que parámos para pensar no que estamos realmente a fazer? 🧐 Estamos em piloto automático a querer concretizar algo para crescermos ou para supostamente ficarmos “bem vistos”?
A beleza de atingir objetivos está na soma de cada pequeno passo que damos. Das más decisões que tomámos até aprender algo novo. Está em aproveitar cada segundo do processo. É no teu processo que vais chegar aos teus resultados.
5. Abraçar a incompetência para chegar ao nível seguinte
Se a outra ideia me deixou a pensar, posso dizer que esta foi uma grande murro no estômago. Pode ser muito, mas muito difícil reconhecer que não sabemos. Que não temos conhecimento suficiente para cumprir uma tarefa que nos foi atribuída… Cria-nos uma sensação de incompetência, de que não estamos à altura, de que não somos bons o suficiente!
Mas é precisamente neste reconhecimento, em que algumas situações pode significar demonstrar a nossa vulnerabilidade, que aprendemos. Se o nosso objetivo é crescer, reconhecer o que ainda não sabemos vai levar-nos mais longe.
Tenho procurado aplicar esta perspetiva na minha vida pessoal e profissional, mas confesso que não é fácil. Lidar com o desconforto pode ser brutal, mas de nada nos vale tentar mudar o mundo sozinhos. Procura ser honesto com os que te rodeiam, absorve o que os outros têm para te ensinar.
“A verdadeira aprendizagem (…) é uma experiência voluntária que requer tensão e desconforto (o sentimento constante de incompetência à medida que melhoramos uma capacidade).”
E para concluir esta reflexão, deixo-te esta questão que Seth Godin também deixa no livro:
“Não se preocupe em mudar o mundo. Primeiro, concentre-se em realizar algo que valha a pena a partilhar. Quão pequeno pode ser e, ainda assim, ser algo de que se orgulhe?”
Excelente artigo ! 🙂