Escrever bem é, do meu ponto de vista, uma arte. A arte de combinar de forma sábia os diferentes domínios que atravessam a língua: o léxico, a ortografia, a sintaxe, a pontuação. E não só! Há muitos outros aspetos que contribuem para o sucesso de um texto, nomeadamente o estilo linguístico, que adotamos em função do nosso objetivo comunicativo: um estilo empático, persuasivo, assertivo ou outro.
Fazer a escolha certa e adequada das palavras é, a meu ver, o primeiro passo para se escrever bem.
Falo do léxico – o primeiro aspeto a ter em conta. A variedade e a riqueza do vocabulário, bem como o uso adequado das palavras no contexto contribuem em grande medida para o sucesso de um texto.
Escolher palavras simples, reconhecidas instantaneamente pelo leitor, permite que ele se sinta confortável, encontrando no texto um lugar aprazível para se deleitar.
A segunda componente a ter em conta é a ortografia, que corresponde à escrita correta das palavras. Escrever corretamente as palavras implica escrever de acordo com a norma ortográfica, respeitando as regras de ortografia e de acentuação gráfica. Não nos podemos esquecer de que os erros ortográficos mancham não só o nosso texto, mas também, e sobretudo, a nossa imagem.
Escrever bem é também combinar corretamente as palavras
Ora, aqui falo da sintaxe, que é a componente da língua que se ocupa da boa articulação das palavras e das frases. Pois bem, essa combinação tem de ser perfeita, usando as concordâncias corretas e os complementos adequados, seguindo-se a boa articulação do texto conferida pelos articuladores discursivos.
Depois de bem articuladas as palavras e as frases, devemos ter em conta o estilo linguístico, que é a maquilhagem do texto, que se quer bela, mas muito suave!
Adjetivos, metáforas, analogias, histórias são alguns dos recursos expressivos que podem adornar e embelezar o nosso texto. São estes adornos que seduzem o leitor e que contribuem para o levar a uma determinada ação.
Fazer um bom uso da pontuação é também um fator a não subestimar
A pontuação é o tempero do texto, mas mal-usada, pode ser um autêntico dissabor. Quando o leitor tropeça num sem-número de vírgulas, parêntesis e travessões, perde o fio condutor da leitura e, certamente, acabará por abandonar o texto.
Em suma, escrever bem é saber articular habilmente as várias componentes da língua: escolher bem as palavras, combiná-las o melhor possível e, por fim, colocar adereços estilísticos com conta, peso e medida.
Reinventando o clássico cliché “somos aquilo que comemos”, nós somos, sem sombra de dúvida, aquilo que escrevemos.
Sobre a autora:
Mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa e professora convidada da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, na Formação Avançada em Técnicas de Alta Performance de Comunicação Oral. Colabora, desde 2008, com a RTP em programas televisivos e radiofónicos sobre Língua Portuguesa e é cronista na Revista Visão (edição digital), integrando a Bolsa de Especialistas.
É autora e coautora de vários livros sobre Língua Portuguesa e Comunicação. Conta ainda com 12 anos de experiência como consultora linguística e formadora de Comunicação em diversas empresas e instituições. Em 2020, criou a COMMUNICA – consultoria linguística e de Comunicação.